sexta-feira, 7 de junho de 2013

Exames e Igualdade de Oportunidades por Jorge Buescu


É sabido que a enorme expansão do sistema de ensino português após a revolução de Abril – que, por exemplo, fez decuplicar o número  de estudantes no Secundário entre 1974-1994 – se fez em detrimento dos níveis de rigor e de exigência, num generalizado facilitismo que, refletido em inúmeras variáveis (programas, manuais escolares, preparação do corpo docente, eliminação de provas nacionais) se propagou também a níveis mais desastrosos de desregulação e desarticulação do sistema educativo. Num universo, como é o nosso, de cerca de 175.000 professores (segundo a PORDATA), de milhares de escolas do Ensino Básico e de centenas do secundário, existem assimetrias e descontinuidades gritantes. Só quem desconhece a realidade escolar do Portugal de hoje pode sustentar a ficção de que as escolas, os professores e o ensino são iguais em todo o lado. Não são. Como é inevitável num fenómeno desta dimensão, há professores excelentes e professores maus, escolas excelentes e escolas más, como a divulgação dos resultados das escolas, que permitiu elaborar diversos rankings a partir de 2001, veio sobejamente comprovar. Os principais lesados com esta ficção igualitária são, evidentemente, os alunos. E Trata-se de uma ficção extremamente perigosa, pois perpetua as desigualdades de base: crianças que crescem em meios isolados, deprimidos e necessitados têm acesso a uma Educação de nível qualitativo mais baixo. Ora, se uma educação de qualidade constitui a ferramenta essencial para lhes permitir superar estas circunstâncias negativas e ascender a níveis sociais, culturais e económicos superiores, a falta dela limita-lhes as opções e recusa-lhes oportunidades. Uma criança a quem não é ensinado o algoritmo da divisão no 1º Ciclo, acabará por pagar o preço mais tarde. Provavelmente demasiado tarde. O facilitismo na Educação não ajuda os que têm mais carências: prejudica-os ao privá-los da única ferramenta que lhes permitiria ultrapassá-las. Não tenhamos ilusões cândidas: o sistema educativo não se autorregula. E fazê-lo evoluir para níveis de qualidade e de exigência uniformes para toda a população exige mecanismo que controlem se, em cada nível de ensino, os conhecimentos correspondentes estão dominados. É esse o papel essencial das provas nacionais, vulgo exames, as quais não podem ser meras “provas de aferição”, que nada exigem de alunos e professores: têm de ter consequências sobre a nota final, de forma a promover o esforço e o trabalho por parte de uns e de outros. Porque, apesar de contradizer o nosso estranho Zeitgeist, a verdade dos factos é que o dicionário continua a ser o único local onde o sucesso vem antes do trabalho. Quanto a supostos “traumas” das crianças provocados pelas provas, tantas vezes invocados sem substanciação, são uma fantasia. Um professor do 1º Ciclo do Ensino Básico afirmou no dia do exame de Matemática: “A reacção dos miúdos foi positiva. Não houve pânico nem dores de barriga. Os pais concordaram. Não tivemos qualquer queixa de encarregados de educação e os professores esforçaram-se mais para que os resultados melhorassem. No caso do nosso agrupamento espero bons resultados pois houve muito investimento por parte de quase todos os professores e os alunos vinham contentes do exame”. Deixemo-nos de agitar fantasmas. Formar cidadãos completos, em igualdade de oportunidades, é um imperativo democrático. Para tanto, temos de proporcionar uma Educação de qualidade – a todos. Portugal necessita, hoje, de provas nacionais no final de cada ciclo – e, como é consensual em todo o Mundo, em ambas as disciplinas estruturantes: Matemática e língua materna.

Jorge Buescu,  in JL de 29 de maio a 11 de Junho de 2013

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