terça-feira, 25 de junho de 2013

O equívoco do tratamento escolar da língua por João de Brito, professor de Português


A respeito da disciplina de Português e do ensino da gramática, João de Brito, professor em Vila Real, comenta as posições de Luís Osório e Sandra Duarte Tavares num texto enviado ao Ciberdúvidas.

A propósito de Abertura Estudar gramática é crime? (27.02.2013), gostaria de acrescentar o seguinte: Luís Osório e Sandra Tavares protagonizam, nesta polémica, o equívoco que, nas últimas décadas, tem prejudicado o tratamento escolar da língua. Luís Osório, notoriamente, desconhece que, nos primeiros ciclos, pelo menos, a esmagadora maioria dos professores tem agido como se pensasse o mesmo. Durante décadas, limitou-se a dar o texto narrativo e a desenvolver atividades de leitura. Houve um grande incremento das bibliotecas escolares. Há o Plano Nacional de Leitura. E os bons resultados foram testados em avaliações internacionais e reconhecidos por escritores, muitos dos quais circulam frequentemente pelas escolas. Sandra Tavares, provavelmente, participa na tentativa que, nos últimos anos, procura repor o ensino da gramática nas escolas. E é aqui que a escola tem falhado, rotundamente. Durante muito tempo, não se ensinou gramática, por se considerar uma chatice. Presentemente, procura-se reabilitá-la. Mas a via descritiva, oficialmente adotada, em desfavor da funcionalidade, atrapalha bastante e, aparentemente, dá razão aos seus detratores.

Resumindo e concluindo, Luís Osório é injusto e está errado. Injusto, porque a leitura tem sido mais que privilegiada pela escola. Errado, porque a gramática tem sido o parente pobre das aulas de Português. Desgraçadamente! E sabe porquê, sr. Luís Osório? Porque não é com literaturas que se desmontam os enunciados de matemática, por exemplo! E sabe porquê, sr. Luís Osório? Porque os enunciados de matemática são uma questão de lógica e não de arte! E sabe porquê, sr. Luís Osório? Porque a lógica está na sintaxe e não na narrativa. E muito menos na poesia! Se calhar, é por isso que somos um país de bons escritores e melhores poetas… e ainda bem. Se calhar, é por isso que somos um país de maus gestores e piores políticos… e ainda mal.

28/02/2013

Texto recolhido no sítio do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Malefícios no ensino do Português por Maria do Carmo Vieira


  1. São, eles, na opinião da autora, referindo-se à realidade portuguesa: a «impraticabilidade da TLEBS», a «valorização da oralidade sobre a escrita»,  a subalternização do Latim e o Acordo Ortográfico. Artigo dado à estampa no jornal “Público” de 20/08/2012, a seguir transcrito na íntegra.

     

    Não é postura democrática um Governo isolar-se de quem governa, evidenciando indiferença ou desagrado perante críticas (designadas por «não construtivas») que colidem com o que deseja impor, mantendo, no entanto, intocáveis as vozes dos que intervêm activamente na satisfação desses desígnios. São várias as situações que o demonstram, nomeadamente no ensino do Português, de que destaco apenas quatro, por uma questão de espaço:

    1) A impraticabilidade da TLEBS, com a sua aberrante nomenclatura, em substituição da gramática tradicional, que,apesar de forte polémica, se mantém em todos os programas de Português, imune a resultados nefastos e a intervenções críticas e fundamentadas de professores, linguistas, escritores, jornalistas e encarregados de educação.

    2) A estreiteza de espírito que impôs a valorização da oralidade sobre a escrita, que atribuiu igual importância a textos funcionais e literários (os últimos designados como «recreativos»), e que considerou «pura perda de tempo» a contextualização histórico-cultural de um autor, inclusive com a indicação do lugar onde nasceu: «Freixo de Espada à Cinta ou outra coisa qualquer», palavras do Prof. João Costa, brilhante mentor da TLEBS, no encontro realizado na Gulbenkian (2011) a propósito do Plano Nacional de Leitura.

    3) A incongruência de o Latim e a literatura portuguesa como opções no “Curso de Línguas e Literaturas”, crendo-se natural que um futuro professor de Português não saiba Latim, base da língua portuguesa. Há quem, no entanto, se esforce contra este absurdo. Uma jovem professora de Português, Susana Marta Pereira, a fazer o mestrado em Ensino do Português e das Línguas Clássicas (FCSHUNL), demonstrou, na escola onde ensina, Externato Nuno Álvares (Palmela) e nas escolas Pedro Nunes e Camões (Lisboa) onde vai completar o mestrado, quanto os alunos podem ganhar afeição pela língua e, consequentemente, pela escrita e pela leitura, com «o conhecimento do Latim e da mitologia clássica, e a explicação da origem das palavras». O certo é que, em 2012-2013, haverá a disciplina de Latim em 5 turmas, do 5.º ao 9.º anos (Palmela), e, em Lisboa, a professora Susana Pereira, com o apoio da sua orientadora de estágio, irá também implementar um programa de “Iniciação à Cultura/Língua Clássica”, de frequência livre, para os alunos do 3.º ciclo, com o objectivo de levar esses alunos a escolher, futuramente, o Latim no secundário.

    4) Finalmente, a imposição do AO, sem debate sério e científico e numa demonstração de extrema falta de respeito pela vontade dos portugueses. O caos é visível em alguma comunicação social, em instituições e na escola, discutindo já os alunos mais velhos a razão de ser das «novas minúsculas» e o desaparecimento geral das consoantes mudas. Com efeito, em textos escolares, em documentos oficiais, em legendas ou em notícias surgem palavras como “expetativa”, “expetante”, “contato”, “contatámos”, “de fato”, “impato”, “tato”, “jato”, “pato”, entre muitas outras, e até “portugal” não tem direito a maiúscula, contrastando, no mesmo texto, e por duas vezes, como prémio “Portugal Telecom” (Revista do INATEL, n.º 238). Falta só que, curvados perante o número de falantes brasileiros e em nome da pretensa «unidade da língua», passemos a usar “presidenta” ou “estudanta”, entre outras similares, obedecendo à lei n.º 12.605, de 3/4/2012, sobre o “Emprego obrigatório da flexão de género para nomear profissão”, recente inovação da “Presidenta” do Brasil.

    Em 2011, o Conselho de Ministros afirmou que o AO visava «reforçar o papel da língua portuguesa como língua de comunicação internacional», mas, entretanto, fecham-se leitorados, dificultam-se as aulas de Português para os filhos dos emigrantes, continuando nós também a desconhecer o quanto tem custado e continua a custar este AO. O Brasil, entretanto, promove congressos com o objectivo de «discutir políticas linguísticas relacionadas à internacionalização do Português brasileiro.» E assim se fazem as cousas, diria Gil Vicente. Não deixe de consultar o site: www.ilcao.cedilha.net.

    27/11/2012

     

    in jornal “Público” de 8 de agosto de 2012.
  2. Texto recolhido no sítio do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Universidade de Coimbra é Património da Humanidade

Universidade de Coimbra é Património da Humanidade

Universidade de Coimbra é Património da Humanidade "mais do que o reconhecimento do valor arquitetónico do complexo universitário de Coimbra, esta decisão da UNESCO sublinha o valor universal da cultura e da língua portuguesas e reconhece o papel central que Portugal teve na formação do Mundo, tal como hoje o conhecemos" João Gabriel Silva, Reitor da Universidade de Coimbra Site da candidatura http://candidatura.uc.pt/pt/
 
Para saber mais, leia aqui.

terça-feira, 11 de junho de 2013



por Ricardo Santos

Chegou a Portugal a melhor e mais conhecida revista literária do mundo, a Granta. A revista inglesa tem vindo nos últimos anos a espalhar-se um pouco por todo o mundo e a criar edições em muitos países, nomeadamente no Brasil, na Suécia, na Turquia e em Espanha. A edição portuguesa, editada pela Tinta-da-China e dirigida pelo jornalista Carlos Vaz Marques já chegou às casas de quem assinou a revista (este que vos escreve é um dos sortudos).

O primeiro número da revista nasce sob a égide temática «Eu», um tema que remete para a subjectividade da criação literária e que é também um manifesto, já que a revista pretende com ele afirmar inequivocamente o seu carácter literário.

Neste número inaugural, como nos seguintes, o miolo da revista compor-se-á com conteúdo proveniente de duas fontes – textos encomendados pela revista directamente a autores e textos do baú Granta; isto é, textos já publicados na casa-mãe, a Granta inglesa, ou até em qualquer outra Granta por esse mundo fora. Este baú é uma verdadeira arca do tesouro, já que conta com textos dos maiores vultos da literatura mundial. Basta ver este primeiro número, onde entram directamente do baú Granta autores como Saul Bellow, Orhan Pamuk (ambos laureados com o Nóbel), Simon Gray, Rachel Cusk e Ryszard Kapuściński (o «poeta da reportagem»).

Pelo lado dos textos encomendados a autores portugueses a representação é também de luxo. Dulce Maria Cardoso, Afonso Cruz, Valter Hugo Mãe (prémio Saramago), Valério Romão, Ricardo Felner, Rui Cardoso Martins e Hélia Correia assinam todos eles pequenos grandes textos. A revista conta ainda com um portefólio fotográfico de Daniel Blaufuks (que também assina a capa) e com a apresentação de oito sonetos de um dos grandes, Fernando Pessoa, sendo que cinco deles são completamente inéditos e os restantes são agora apresentados em leituras diferentes (quem já viu a letra manuscrita de Pessoa saberá a dificuldade de perceber aqueles gatafunhos). Esta apresentação está a cargo dos investigadores Jerónimo Pizarro (que recentemente ganhou o prémio Eduardo Lourenço) e Carlos Pitella-Leite.

O conselho de quem já se embrenhou no meio da revista é este – arranjem 18€, que é o preço de capa da revista, e na sexta-feira corram para um livraria a comprar o primeiro número da edição portuguesa da Granta. Ou, se puderem, façam melhor – assinem a revista por dois anos, com a vantagem de a receberem comodamente nas vossas caixas de correio e ainda sacarem um desconto de 25%.

A edição portuguesa da Granta terá uma periodicidade semestral, com a qualidade de edição, o grande nível das traduções e o cuidado gráfico a que a Tinta-da-China já nos habituou. Granta revista!

informação recolhida no sítio janela urbana 

Leia mais aqui.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Exames e Igualdade de Oportunidades por Jorge Buescu


É sabido que a enorme expansão do sistema de ensino português após a revolução de Abril – que, por exemplo, fez decuplicar o número  de estudantes no Secundário entre 1974-1994 – se fez em detrimento dos níveis de rigor e de exigência, num generalizado facilitismo que, refletido em inúmeras variáveis (programas, manuais escolares, preparação do corpo docente, eliminação de provas nacionais) se propagou também a níveis mais desastrosos de desregulação e desarticulação do sistema educativo. Num universo, como é o nosso, de cerca de 175.000 professores (segundo a PORDATA), de milhares de escolas do Ensino Básico e de centenas do secundário, existem assimetrias e descontinuidades gritantes. Só quem desconhece a realidade escolar do Portugal de hoje pode sustentar a ficção de que as escolas, os professores e o ensino são iguais em todo o lado. Não são. Como é inevitável num fenómeno desta dimensão, há professores excelentes e professores maus, escolas excelentes e escolas más, como a divulgação dos resultados das escolas, que permitiu elaborar diversos rankings a partir de 2001, veio sobejamente comprovar. Os principais lesados com esta ficção igualitária são, evidentemente, os alunos. E Trata-se de uma ficção extremamente perigosa, pois perpetua as desigualdades de base: crianças que crescem em meios isolados, deprimidos e necessitados têm acesso a uma Educação de nível qualitativo mais baixo. Ora, se uma educação de qualidade constitui a ferramenta essencial para lhes permitir superar estas circunstâncias negativas e ascender a níveis sociais, culturais e económicos superiores, a falta dela limita-lhes as opções e recusa-lhes oportunidades. Uma criança a quem não é ensinado o algoritmo da divisão no 1º Ciclo, acabará por pagar o preço mais tarde. Provavelmente demasiado tarde. O facilitismo na Educação não ajuda os que têm mais carências: prejudica-os ao privá-los da única ferramenta que lhes permitiria ultrapassá-las. Não tenhamos ilusões cândidas: o sistema educativo não se autorregula. E fazê-lo evoluir para níveis de qualidade e de exigência uniformes para toda a população exige mecanismo que controlem se, em cada nível de ensino, os conhecimentos correspondentes estão dominados. É esse o papel essencial das provas nacionais, vulgo exames, as quais não podem ser meras “provas de aferição”, que nada exigem de alunos e professores: têm de ter consequências sobre a nota final, de forma a promover o esforço e o trabalho por parte de uns e de outros. Porque, apesar de contradizer o nosso estranho Zeitgeist, a verdade dos factos é que o dicionário continua a ser o único local onde o sucesso vem antes do trabalho. Quanto a supostos “traumas” das crianças provocados pelas provas, tantas vezes invocados sem substanciação, são uma fantasia. Um professor do 1º Ciclo do Ensino Básico afirmou no dia do exame de Matemática: “A reacção dos miúdos foi positiva. Não houve pânico nem dores de barriga. Os pais concordaram. Não tivemos qualquer queixa de encarregados de educação e os professores esforçaram-se mais para que os resultados melhorassem. No caso do nosso agrupamento espero bons resultados pois houve muito investimento por parte de quase todos os professores e os alunos vinham contentes do exame”. Deixemo-nos de agitar fantasmas. Formar cidadãos completos, em igualdade de oportunidades, é um imperativo democrático. Para tanto, temos de proporcionar uma Educação de qualidade – a todos. Portugal necessita, hoje, de provas nacionais no final de cada ciclo – e, como é consensual em todo o Mundo, em ambas as disciplinas estruturantes: Matemática e língua materna.

Jorge Buescu,  in JL de 29 de maio a 11 de Junho de 2013